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fevereiro 07, 2011

Meu sorriso, Jenny.

 


Não havia nada melhor do que ver aquele sorriso brilhar. Era realmente a coisa mais linda do mundo. Todos os dias pela manhã, eu olhava para aquele maravilhoso rosto e a cada segundo eu tinha mais certeza de que queria vê-lo para sempre, e o meu lugar era ali... ao lado dela. Estávamos bem, até o fim daquela semana, quando Jenny começou a passar mal, vomitar sangue e ter fortes dores de cabeça. Fomos ao médico para fazer alguns exames e o resultado sairia em três dias. Até então decidimos pensar em outras coisas, afinal, poderia ser somente uma crise de stress que ela estava enfrentando no novo trabalho, ou qualquer coisa parecida. No domingo pela manhã fomos ao consultório pegar os resultados e conversar com o médico. Mas as coisas não pareciam tão bem quanto queríamos. Novos exames foram solicitados para confirmar o que estavam achando ser. Perguntei ao Charlie R., o médico, o que ele suspeitava e se isto era ruim, mas ele nada respondeu, disse apenas que preferia ter certeza para não falar bobeiras e não nos levar à preocupações maiores. Mas foi neste momento, que eu percebi que as coisas não estavam totalmente sobre controle. E durante cinco dias, eu me perguntava o que poderia ser. Pesquisei os sintomas que Jenny andava apresentando, mas nenhum caso parecia tão assustador, na verdade, não encontrei doenças que apresentassem tais sintomas. Um dia antes de pegar os exames, Jenny desmaiou no serviço, e me ligaram de lá. Meu coração quase pulou pela garganta, e senti minhas mãos gelarem num instante. Peguei as chaves do meu carro e fui encontrá-la o mais rápido que pude. Levaram-na direto para o hospital, mas pela graça de Deus ela já estava consciente. Conversamos por longas 3 horas, até ela adormecer de tantos sedativos. Charlie, que estava cuidando do caso, me chamou para uma conversa particular. Disse-me que os exames já estavam prontos e que queria me preparar antes, para que eu não me descontrolasse ou desestimulasse Jenny. O que ela tinha, na verdade, se tratava de uma doença degenerativa que acabaria com Jenny em menos de 1 ano. Era uma célula cancerígena, tão rara, que somente 1 em 1,2 milhões de pessoas apresentam, e não há nada a fazer, somente esperar a morte chegar. Bem, vou explicar-lhes mais ou menos o que é, essa célula vai corrompendo cada órgão, até faze-los parar de funcionar. As hemácias são afetadas de tal forma a não transportarem mais tanto oxigênio ao corpo, assim a pessoa fica sem energia alguma. O cérebro vai parando de funcionar aos poucos, e até os próprios sentidos vão se perdendo. Foi então, quando me descontrolei. Foi a pior conversa particular que eu já tive em toda a minha vida. Chorei até não haver mais o que cair. Perguntei ao Charlie se haveria alguma coisa para eu fazer, que revertesse a situação... Talvez se eu doasse os meus órgãos, ou assim que ela perdesse a visão, eu poderia doar os meus olhos, qualquer coisa, eu... Eu não sabia o que pensar. Eu só queria, eu só queria que nada daquilo estivesse acontecendo. Mas a única coisa que eu realmente poderia fazer era doar sangue, isso faria com que Jenny não morresse tão depressa, talvez doando sangue, eu poderia ficar mais uma ou duas semanas ao lado dela. Mas não importava, eu daria tudo o que tenho somente por dois minutos ao lado dela. A única coisa que precisava ser feita, era ver se o meu tipo sanguíneo era compatível com o de Jenny, e fizemos isso o mais rápido possível. Na manhã seguinte, Charlie veio dar as noticias a Jenny. Foi então, que eu vi os olhos dela tão sem expressão, e o sorriso mais belo do mundo havia sumido. Seus olhos estavam tão baixos, quanto podiam. As minhas mãos percorreram a cama, até encontrar as mãos de Jenny, e meus lábios só conseguiram dizer: Eu te amo. Charlie disse que o meu sangue era compatível com o de Jenny e isso foi a única coisa que me fez abrir um pequeno sorriso, mas durou apenas 3 segundos, pois toda aquela situação era ruim demais que logo me fizeram voltar aos olhos caídos e cansados e a minha cabeça baixa. Mas eu sabia que tinha que ser forte, eu precisava ser forte! As sessões de quimioterapia começaram, e Jenny começou a perder os cabelos. Em uma semana, estava careca. E antes de ir visitá-la no hospital, depois do serviço passei no cabeleireiro e raspei o meu também, e passei na floricultura para lhe comprar as mais belas flores que tinham. Cheguei ao hospital, e logo que abri a porta e a vi, a única coisa que escutei foi: Você é louco! E aquilo me fez rir, e ela sorriu. Sentei ao seu lado, e nós demos as mãos. Dei um beijo em sua testa e disse: Está tudo bem, eu estou aqui com você agora, e estarei para sempre. Ela abaixou os olhos e uma lagrima escorreu de seus olhos. Passaram-se duas semanas, e as coisas começavam a piorar. As transfusões de sangue começaram e todos os dias, eu tirava um pouco de sangue para Jenny. Ela já estava começando a perder a audição, até que perdeu totalmente. Agora ela estava careca e já não ouvia mais nada. Nós nos comunicávamos através de um pedaço de folha de papel e uma caneta. Na quarta-feira, sai do quarto um pouco e fiquei quase uma hora lá fora, e quando cheguei perto da janela do quarto de Jenny, eu a vi chorando. E ela estava totalmente descontrolada, parecia que as lagrimas tinham vozes, e aquelas vozes gritavam, não somente de dor, mas de tristeza. Decidi não entrar no quarto para não atrapalhar, as vezes é bom ficar sozinho, e talvez, fosse bom pra ela também. Aconteceu que eu adormeci sentado no chão, do lado de fora, ouvindo o choro de Jenny. Quando completou dois meses de tanto sofrimento e dor, Jenny já quase não podia ler o que eu escrevia, pois a sua visão começa a ficar limitada. Aqui, Jenny estava careca, sem ouvir e parcialmente cega. Mas ainda conseguia ver os meus desenhos e coisas como “Eu te amo, princesa”. Eu continuei doando sangue, até que quando se completaram 5 meses a situação toda se agravou, e já não havia mais absolutamente nada que eu pudesse fazer. Já perdendo a força nas mãos e nos pés, Jenny quase não se movia, já não sentia gosto de nada, e quase não enxergava mais nada. Foi ai, que vi a minha linda menina morrer não somente por fora, mas por dentro. Perdendo todos os sonhos, todos os desejos, toda a vontade e toda a força. Foi então, na manhã de domingo de 22 de novembro de 2010 que Jenny partiu. Em seu funeral era como se meus olhos se recusassem a acreditar no que estavam vendo. Minha mente estava perturbada e confusa, tão triste e eu desejava estar no lugar de Jenny. Eu faria tudo para ter ela ao meu lado, eu doaria até a ultima gota de sangue do meu corpo para tê-la ao meu lado somente por mais 5 minutos. Os dias passaram, passaram meses. Trancafiado num quarto, eu me recusava a querer viver, e simplesmente via tudo passando e eu ali, apodrecendo sem vida, sem o amor do meu anjo. Depois de longos e cruciais 3 meses, decidi arrumar as coisas em casa. Abri o guarda roupas de Jenny, tirei o vestido preferido dela e coloquei perto ao meu nariz, e ainda persistia o cheiro da minha mulher. Chorei por longas 2 horas, até me lembrar de cada momento, desde quando nos conhecemos no intervalo da escola, até a praia, nas festas, do nosso primeiro beijo, nossa primeira discussão, dos telefonemas, dos olhares e claro, daquele sorriso, até eu vê-la no hospital, até o funeral. Encontrei uma pequena caixinha que nunca tinha visto antes, ao abri-la vi um pequeno papel que estava escrito exatamente assim: “Meu querido, se estiver lendo isto agora, significa então, que já parti. Não se assuste, eu vou explicar. Acontece, que eu já sei de tudo o que vai acontecer, não queria, mas sei... Desde os meus 12 anos, quando descobri a doença. Convivo com a idéia de que eu morreria aos poucos, desde criança. Papai e mamãe morreram no acidente de carro, e restou apenas eu, sozinha tentando sobreviver a isto. Nunca quis te contar sobre isso, pois simplesmente não queria que isto destruísse os seus sonhos. Sonhos de casamento, de viver, de ter filhos, de morrermos juntos. De todas as coisas que quero e se puder desejar, eu quero que você ao terminar de ler isto, rasgue. Doe minhas roupas, jogue tudo fora, e guarde somente com você o nosso amor. Objetos ficam pesados ao se carregar, mas o amor é mais leve do que qualquer coisa, e além do mais, nos faz flutuar. Não sinta raiva, ou ódio por eu não ter te contado nada antes. Apenas sorria meu amor, porque eu estou aqui do outro lado, sorrindo para você. A cada segundo, te esperando ansiosamente. Eu te amo mais do que qualquer coisa, e você vai muito mais além do que qualquer coisa que eu poderia desejar. Seja feliz meu amor, mas por favor, não se esqueça de mim. Eu te amo, vida!”. Meus olhos, mais uma vez, derramaram lagrimas intensamente, eu estava confuso, minhas mãos percorreram aos meus cabelos, quis puxá-los de uma vez. Passaram-se algumas semanas, mas foi a partir daquele momento, em que li a carta, que decidi viver, e sorrir. E cada sorriso que eu dava, era para Jenny. Todas as vezes que eu me deitava, o meu pensamento era ela. As minhas vitórias eram todas dedicadas a ela. Cada segundo da minha vida, eu esperava ansiosamente para encontrá-la de novo, e poder abraçá-la. Todas as manhãs a minha força vinha daquele lindo sorriso, que eu pude contemplar por 7 anos. A minha vontade de viver, já não vinha mais de mim e de alcançar objetivos, era tudo direcionado a ela, na verdade sempre foi, mas agora isso ficava mais claro para mim. E eu acreditava no amor e acreditava em Jenny, e apesar de tudo e dela ter partido, eu ainda acreditava que tivéssemos sido feitos um para o outro, eu a completava, e ela me completava totalmente e inteiramente. Jenny - eu dizia todos os dias de minha vida - aonde quer que esteja meu amor, espere por mim, eu te amo, sempre foi assim e para sempre há de ser. Boa noite, minha princesa do sorriso mais lindo do mundo, este sorriso aqui vai para você -  E eu sorria... Até adormecer.


William Balmant

1 comentários:

  1. Muito emocionante essa história! *-*
    Fiquei emocionada!

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