Quando se ama uma vez ...

Ela: Diga que me ama

Ele: Eu te amo

Ela: Ama mesmo?

Ele: Não

Ela: Ué, então porque realmente diz?

Ele: Digo porque você pediu para eu dizer

Ela: Então se eu não tivesse pedido para você dizer que me ama, você nunca diria?

Ele: É.. acho que não!

Ela: Porque me faz acreditar no que diz?

Ele: Eu não estou pedindo pra acreditar.. Olha, já chega ok. É só uma palavra sem sentido.

Ela: “Eu te amo” é uma palavra sem sentido pra você?

Ele: É, é sim. Garotos como eu não dizem eu te amo, ok? Eu não quero bancar o quebra-corações com você.

Ela: Então sou importante pra você?

Ele: Não disse isso! Eu só disse que... Você está me confundindo. Eu não disse que te amo porque eu realmente te amo, só disse por que você pediu para eu dizer. Pronto!

Ela: Tudo bem... Eu te amo!

Ele: (risadas) Você é muito bobinha, você só quer curtir, assim como eu. Esse lance de amar é passageiro.

Ela: Não pra mim

Ele: E o que significa então você me amar?

Ela: Significa que quero te ver bem, e que se fosse preciso, eu daria cada gota de sangue do meu corpo para você. Significa que eu quero ver sempre teu sorriso, nunca suas lágrimas. Somente se forem de felicidade. O amor é complicado, mas eu só sei que te amo.

Ele: (risadas) Quanta bobeira numa frase só

Ela: Um dia você vai entender tudo isso. Eu espero

Ele: Olha, um dia quem sabe, por enquanto eu quero curtir minha vida, eu quero sair, beber, me divertir... Eu quero ser feliz!

Ela: É isso que significa ser feliz pra você? Não ter ninguém que te ame por perto, beber, se drogar, pegar todas as garotas?

Ele: É, é sim! – diz irritado.

Ela: Boa sorte pra você.

Ele: Ah, muito obrigado. Mas a sorte sempre esteve do meu lado, não preciso de você me desejando.

Ela: Tudo bem.

Se faz um silêncio profundo naquele banco da praça.

Ela: Depois que você pegar todas, e curtir o suficiente... Você volta pra mim?
Ele: (gargalhadas) Voltar pra você? Ta ficando louca? Eu nunca fui seu, não haveria porque “voltar”

Ela: Só diga que é meu

Ele: Eu não sou seu, eu sou de todas.

Ela: É só me prometer

Ele: Prometer o que garota?

Ela: Promete que volta pra mim, e eu serei sua.

Ele: De que adianta você ser minha, quando eu posso ter todas que eu quiser? E além de que, você também, no fundo, quer curtir. Você não esperaria tanto tempo por mim, você é como as outras... faz-se de santa, mas no fundo, em menos de uma semana, vai estar falando o mesmo para um outro garoto, e talvez fazendo coisas...

Ela: Não me compare com o resto das demais garotas. Não é porque a maioria faz imundices que eu também faço. Eu não me encaixo neste grupo. Eu sou diferente, eu não sou assim.. Eu, eu não sou assim! – diz em meio a uma lagrima e uma revolta cravada em seu coração.

Ele: Você pensa que não é, (risadas) eu não vou ficar discutindo com você.

Ela: Espero que um dia você aprenda.

Ele: O que?

Ela: Quem ama uma vez, ama pra sempre.

Ele: Hm...

Ela: E não precisa me prometer, e nem dizer que vai voltar pra mim. Eu vou te esperar, o tempo que for, eu não sou igual essas meninas que você conhece pela rua. Eu vou te esperar, bem aqui.

Ele: Você e essa sua história de amor ... Olha, eu vou embora, fiquei de ligar pro meu amigo, hoje tem festa. Hoje a noite promete (gargalhadas)

Ela: Se cuide, por favor.

Ele: Eu já sou bem grandinho, valeu. – e saiu andando.

Ela: Tchau... – disse em voz baixa. E quase em sussurros declarou – Eu vou te esperar... amor da minha vida. Eu vou te esperar, em baixo de chuva, através de tempestades, ainda que o sol pare de brilhar, ainda que minha memória me impeça de lembrar bons momentos meu coração vai sempre dizer o seu nome. Mesmo quando as nuvens escureçam, mesmo que ... – e começou a chorar – mesmo que eu precise dar minha vida inteira, mesmo que minha vida toda seja pra te esperar e te ver voltar, eu... eu vou te esperar aqui. Eu te amo, eu juro!

E assim se passou 17 anos. Ele viajou para vários lugares, vários países. Muitas garotas passaram em sua vida, muitas histórias e uma tragédia. Ela permaneceu na pequena cidade. Todos os dias durante 4 anos, ia para a cidade ao lado estudar. Começou a trabalhar na área em que fez faculdade, foi morar sozinha e durante 17 anos, todos os dias, ela fazia somente um desejo....

Muitos garotos tentavam ter algo com ela, mas era como se ela estivesse “prometida” à alguém. Então, nunca se envolveu com ninguém mais. Resolveu focar na sua vida profissional, pois a vida pessoal pra ela, só começaria quando um relacionamento chegasse. Mas o seu relacionamento estava longe, então, ela esperava dia e noite.

E foi então, depois de 17 anos.... Lá estava ela, no mesmo banco que estava à 17 anos atrás. Sentada, pronta para o trabalho. Esperava apenas o ônibus chegar. Foi então, que viu um rapaz, se movimentando sozinho, em uma cadeira de rodas, com barba grande e cabelos grandes. Os olhos dele brilhavam. Fitou-o por alguns segundos, e então ela se levantou, e com os olhos cheios de lágrima, reconheceu o amor da sua vida. Correndo o máximo que pode, atravessou a pequena praça e o abraçou. Ele tirou os braços das rodas, e retribuiu o abraço.

Ela: Vo-você... O que.. É você mesmo.. deixa eu te ver.. você está aqui. Você!
Ele: - Com muitas lágrimas escorrendo em seus olhos ele pode enfim dizer – sou eu... amor!

Fez então, um silêncio profundo. Um silêncio como o de 17 anos atrás. Mas este silêncio era cheio de emoção. Um silêncio com amor, um silêncio de paz.

Ele: Eu me lembro agora, de tudo o que disse. Curtir, beber, drogas, sexo ... Eu me arrependo tanto!

Ela: Agora já foi, você está aqui, comigo. Outra vez. Como estas coisas aconteceram com você? Porque está em uma cadeira de rodas?

Ele: Foi tudo graças a minha falta de insensibilidade e falta de juízo. Londres, 2009. Entre bebidas e drogas, entre cigarros e whiskey, uma volta de carro, e um acidente. Fiquei por lá me recuperando, fiz cirurgias, quebrei o baço também. Foi uma tragédia.

Ela: - seus olhos derramavam lágrimas descontroladamente. Por um lado ela estava terrivelmente assustada e triste, mas de um outro lado, o seu coração pulsava de um jeito que nunca tinha bombeado sangue antes. Ela estava, do outro lado, se sentindo a pessoa mais feliz do mundo.

Ele: Então fiquei sozinho, sem ninguém. Aqueles que diziam ser meus amigos, as mulheres que diziam me amar, todos, simplesmente todos fugiram. Desapareceram. Então você me veio à cabeça, por um momento eu achei besteira, pois talvez você já estivesse casada com filhos e muito feliz. Mas algo mais forte me fez querer voltar pra você. Algo que eu nem sei o que é, algo que eu nunca imaginei que pudesse sentir. Foi então que percebi, “quem ama uma vez, ama pra sempre” e tudo começou a fazer sentido. E de um jeito ou de outro, eu vim até você. Eu te amo.

E outra fez se fez silêncio, o ônibus já tinha ido embora. Mas ela nem se quer por um segundo, fez questão de lembrar do trabalho. Agora ela estava bem, estava com o seu amor. Eles se beijaram, e pareceu, que por milésimos de segundo, naquele exato momento, a Terra de algum jeito festejava, e foi como se o ar que rodava em volta deles, cantasse uma canção de amor.

Ele: Eu voltei pra você.

Ela: Voltou pra sempre. Você é meu agora, você sempre foi. Mas escapou, você sempre foi livre, só quis voar.

Ele: Eu voei e cai, enquanto eu poderia ter usado minhas asas somente para de proteger. Eu fui tolo, me desculpe. Eu quero você pro resto da minha vida. Eu não quero nunca mais ficar longe de você. Eu nunca fui completo, todos os cigarros, por todas as bebidas, em todas as garotas, eu nunca encontrei algo que encaixasse perfeitamente em mim, como você se encaixa em mim. Mas eu demorei pra perceber isso. Me desculpe

Ela: O importante é que você esta aqui.

Ele: Você não se casou? Não tem filhos, ou namorados?

Ela: Eu disse que te esperaria, e cumpri minha palavra.

Ele: Você é tudo.

Ela: Eu te amo

Ele: Eu te amo, eu juro!

E foi então, quando o pássaro de asas machucadas, já mal de saúde, enfim, partiu. O coração dela foi levado com ele. E durante todos os dias ela dizia a si mesma: eu vou esperar... eu vou esperar o meu dia de partir, pra podermos ficar juntos outra vez, em paz. Meu amor.

Ele fugiu uma vez, mas voltou. Voltou para viver uma vida de verdade. Mas dessa vez, ele havia partido, e dessa partida, não há voltas. Então ela esperava, todos os dias, a vez da partida dela. Mas, por todos os motivos, ela estava feliz. Ela o amava, e sabia que ele estava em paz agora. Passaram-se alguns meses, e ela parou de desejar que sua partida chegasse logo, pois sua barriga começara a crescer. Ele havia partido, mas deixou o melhor presente de todos para ela. Juliet, assim foi chamada a pequena menininha. Ela se casou outra vez, e o homem de algum jeito, ajudou a criar a pequena Juliet, ele dava carinho e o amor que podia. Mas o pensamento dela, estava sempre em seu amor. No seu primeiro e verdadeiro, grande e real amor. Juliet chamava o homem de papai, embora soubesse que na verdade, o seu pai verdadeiro já havia partido. E sempre que via as fotos de seu pai biológico, ela sorria.

Passaram-se alguns anos e a pequena grande mulher apaixonada partiu, e foi se encontrar com seu grande amor. E desta vez, era realmente para sempre. Sem separações!

Juliet e o “pai” permaneceram, em meio a lagrimas e tristeza. Ele continuou a cuidar de Juliet como filha, e ela continuou a chamá-lo de papai. Com 14 anos, estava lá a pequena menininha sentada no banco da praça conversando com o garoto que gostava.

Juliet: Só diga que me ama

Ele: Eu te amo

Juliet: Você realmente me ama? – disse, sorrindo.

Ele: Não. Eu disse porque você pediu para eu dizer. Não significa que eu te ame

Juliet: Então se eu nunca pedisse pra dizer que me ama, você nunca diria?

Ele: Hm, eu acho que não Juliet. Eu hein, quanta paranóia.

E a conversa durou mais alguns minutos. O seu “papai” a olhava pela janela, e a viu chorando. Aquilo cortou o coração dele, ainda mais quando viu o menino saindo do banco e indo embora dali. Juliet com as duas mãos no rosto, chorava. Mas não tinha porque se preocupar, tudo ficaria bem. Era só uma questão de tempo... e de amor.

William Balmant